Unidade 2

Compreendendo a História Surda a partir das produções artísticas De’VIA

Olá, agora que você já conhece o movimento De’VIA e alguns dos seus principais artistas, vamos estudar como este movimento artístico cultural nos ajuda a compreender a história surda.

Ao longo dos anos, a maior parte das narrativas sobre a história dos surdos foi escrita por pessoas ouvintes. Isso fez com que, muitas vezes, se difunda a versão de que as comunidades surdas foram vítimas, totalmente submissas a um poder ouvinte. Esta versão reforça os estereótipos do surdo com um ser digno de pena, que precisam de ajuda e de caridade. Entretanto, os registros visuais do Movimento De’VIA nos mostram que os surdos não foram apenas seres passivos.

As comunidades surdas lutaram e continuam lutando para sua sobrevivência cultural em meio a um mundo que busca transformar seus corpos para se enquadrar em um padrão de normalidade. Prova disso é que as línguas de sinais continuam vivas e as comunidades surdas cada vez mais ativas e vibrantes! 

Após o Congresso de Milão em 1880 o modelo de educação oralista, que primava pelo ensino da fala e de leitura labial. O objetivo era transformar o surdo o mais próximo possível de alguém que ouve e fala. Essas experiências de viver e ser educado num contexto de oralizacão foram retratadas pelos artistas De’VIA, vamos ver algumas obras:

Você deve ter notado que muitas vezes aparecem imagens de marionetes, isso é uma metáfora que expõem a discordância dos povos surdos com relação a práticas que os privam de sua comunicação natural em Libras e os transformam em seres manipuláveis nas mãos de pessoas e instituições.

Também nesse período pós-congresso de Milão entraram em voga práticas clínicas de tentativa de correção da surdez por meio de aparelhos auditivos, tratamentos fonoaudiológicos e de cirurgias de implante coclear. Essa invasão do corpo do surdo pela medicina foi mostrada por muitos artistas De’VIA. Veja: 

Mas os surdos resistiram no cotidiano! Vejam as cenas de resistência às intervenções corporais mostradas nas próximas imagens:

Outras imagens mostram como historicamente as famílias, enlutadas por receberem crianças surdas, e também o isolamento linguístico que as crianças surdas sofrem ao estarem em meio a famílias não sinalizantes.

Algumas pinturas tratam momentos difíceis da história geral que também foram difíceis para as comunidades surdas. Assim como outros povos, os surdos também são sobreviventes do holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. A artista Nancy Rourke retratou esse triste momento da história surda, quando muitos surdos foram mortos, levados para campos de concentração e serviram de cobaias para médicos nazistas.

ROURKE, Nancy. Doris Fedrid e Rose Steinberg

 Outro momento delicado, está relacionado às práticas de eugenia, por isso, muitos artistas usam a metáfora do rato de laboratório para representar a resistência dos povos surdos. Nancy Rourke (n3) denuncia a esterilização de mulheres surdas como parte de um projeto eugenista de controle das populações surdas. Essas mulheres tiveram seus direitos reprodutivos negados em nome de uma suposta normalidade.

ROURKE, Nancy. I Sterilized Without Consent. 2018.

Mas não é só de sofrimento que foi escrita a história surda. Agora vamos ver algumas imagens que mostram o florescimento da cultura surda, a beleza de viver em comunidade usando uma língua gesto visual.

Viu só? O movimento De’VIA é uma valiosa fonte de pesquisa sobre a história dos povos surdos e nos faz enxergá-la a partir de uma perspectiva de luta e de resistência. Nas próximas unidade vamos estudar o papel das mulheres surdas para a construção dessa narrativa de lutas e resistência política dos povos surdos.