Nancy Rourke e Susan Dupor: a potência política da mulher surda na arte. 

As mulheres surdas tiveram um papel importante na criação e na manutenção do Movimento De’VIA. Por exemplo, na comunidade surda a artista Betty G. Miller é chamada carinhosamente de “mãe” do movimento De’VIA. Isso porque ela foi a primeira pessoa surda, que se tem notícia, a expor sua experiência surda nas telas.

Sua obra Ameslan Proibited (1972) é considerada obra inaugural do movimento que ainda não tinha o manifesto escrito, mas que já começava a florescer na comunidade surda.

MILLER, Bety. Ameslan Prohibited, 1972.

As exposições de Betty Miller causavam impacto não só na comunidade surda, mas também no meio dos ouvintes que, segundo Betty Miller, a acusavam de ser ingrata por todo o trabalho que os ouvintes faziam para “ajudar os surdos”. Por isso, a importância de Betty para começar a denunciar o tratamento que historicamente foi dado aos surdos e por trazer a autocrítica para a comunidade ouvinte repensar a sua relação com os povos surdos. Betty Miller também foi criadora de muitas metáforas que serviram de inspiração aos próximos artistas De’VIA, como por exemplo, a metáfora do surdo como marionete, como um objeto manipulável nas mãos dos ouvintes. Vamos ver algumas obras de Betty Miller e de artistas que se inspiraram nela:

Bety Miller é  orgulho para a comunidade surda e uma verdadeira artista De’VIA!

Há muitas outras mulheres inspiradoras no movimento De’VIA. Escolhemos duas delas para apresentarmos seus trabalhos e sua história de vida. Elas são Nancy Rourke e Susan Dupor. 

Nancy Rourke começou a desenhar e pintar aos seis anos. A artista cresceu em San Diego e foi para um rigoroso programa oralista numa escola de treinamento auditivo. Durante toda a sua infância, Nancy criou novas peças e exibiu as suas obras de arte em feiras, concursos e galerias.  Graduou-se e pós graduou-se em design gráfico e pintura no Instituto de Tecnologia para Surdos de Rochester, Nova York. Em 1979 teve sua primeira exposição na National Gallery of Art em Washington D.C., mas como não tinha total confiança nas suas chances de sucesso na comunidade artística, Nancy Rourke optou por trabalhar como designer gráfica na iniciativa privada, onde atuou por vinte anos, até voltar a subsistir como pintora. Naquele meio tempo, Nancy trabalhou em grandes empresas e no cinema. Foi em 2010 que Nancy se envolveu com o movimento artístico De’VIA e percebeu que havia descoberto a sua paixão. Ela centraliza-se em temas de resistência, afirmação e libertação.  

“Faço uma declaração política. Capturei a sociedade de hoje que precisava de atenção porque está muito atrasada. Parte disso (da minha obra) é para educar e parte dela é um alerta. Eu pinto como os surdos têm sido controlados por ambientes predominantemente auditivos. Procuro retratar a quanto sofrimento as pessoas surdas foram submetidas, desde muitos anos. Eu achava que era importante mostrar para o público a nossa humanidade e os nossos direitos. A discriminação era demais e é isso que estou pintando hoje. “

Nancy Rourke

As principais cores das obras de Rourke são o azul, o vermelho, o amarelo (todas em tons vibrantes) e o preto.

Principais cores utilizadas por Nancy Rourke

A paleta de cores recorrente tornou-se, assim, a sua marca registrada. É fácil reconhecer uma pintura de Nancy Rourke por essa característica e também pelos traços e pinceladas marcantes. O uso das cores é tão relevante nas obras, e as obras são tão decisivas em sua vida, que o seu sinal pessoal é uma referência às três cores mencionadas. Rourke (2018) afirma também que se inspira no “Movimento Fauvismo, no Movimento Neo-Expressionista e no Movimento De Stijl, porque esses movimentos artísticos usavam cores primárias.”

Vamos ver algumas de suas obras: 

Para conhecer mais sobre a obra da artista Nancy Rourke, acesse o seu website: https://www.nancyrourke.com.

Susan Dupor nasceu surda em Madison/ Wisconsin onde frequentou programas tradicionais para “deficientes auditivos” do jardim de infância ao ensino médio. Em 1987 matriculou-se no Instituto Técnico Nacional para Surdos (NTID), do Instituto Tecnológico de Rochester (RIT), para cursar especialização em Ilustração. Em seguida transferiu-se para a Escola do Instituto de Arte de Chicago, onde obteve o seu diploma de Bacharel em Belas Artes. Trabalhou por um ano num estúdio de animação antes de cursar o Mestrado em Ciências na Educação de Surdos e Educação Artística pela Universidade de Rochester e NTID.

Susan Dupor

Atuou como docente no NTID por três anos antes de voltar para Wisconsin, onde leciona artes, até hoje numa escola de surdos. Mesmo tendo um irmão com perda auditiva, Susan Dupor não teve acesso à língua de sinais como primeira língua, o que seria de se esperar pois, haveria mais alguém na família para se comunicar. Dupor aprendeu o Inglês sinalizado para acompanhar as aulas ministradas em língua oral com um intérprete na escola de ouvintes. A artista relata que se sentia alienada e fugia para o mundo da arte, onde podia mostrar a sua capacidade de criar. Pelas artes visuais Dupor conseguia transpor a barreira linguística e sentir-se emancipada diante dos colegas ouvintes. Além disso, a arte permitia que ela visualizasse um futuro profissional como ilustradora, o que, ao final, ela foi mais além e produziu os seus próprios quadros e as suas narrativas surdas. O seu contato com a língua de sinais e com a cultura surda aconteceu apenas quando ingressou na RIT/NTID. História, cultura e educação de surdos se tornaram o tema central das produções de Susan Dupor. A inspiração para as composições vem de artistas como Frida Kahlo e pintores do Realismo Social da Grande Depressão Americana. As suas obras de arte variam entre animação, pinturas e produções multimídia, num movimento que transformou a opressão em ativismo político da surdidade.

 Vamos ver algumas de suas principais obras de arte:

Para conhecer mais o trabalho de Susan Dupor acesse o website da artista: http://duporart.com.

Na maioria dos museus do mundo todo, a maior parte das obras expostas são de homens. As mulheres são sistematicamente ignoradas e excluídas da história da arte. O movimento De’VIA, além da sua contribuição para a arte surda, possibilita a visibilidade da força política das mulheres na arte, em especial a força política da mulher surda.  

Gostou de conhecer o trabalho destas grandes astistas?  Se você quiser conhecer mais trabalhos de mulheres surdas, acesse o catálogo que preparamos em forma de e-book. Nele você poderá conhecer melhor o trabalho de artistas surdas ao redor do mundo! 

A estudante surda Kailani dos Santos da Silva, do curso Técnico em Comunicação Visual, preparou esta apresentação para você, que também é surdo ou que sabe se comunicar em Libras. Aproveite!

Apresentação do Ebook em Libras realizada pela estudante Kailani Santos da Silva.